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Por que as crianças mentem? – Como lidar com a Mentira {Parte I}

O assunto de hoje preocupa muitos pais: MENTIRA. Conforme as crianças crescem, o motivo e complexidade da mentira mudam, e a repreensão/punição precisa ser ajustada de acordo com a idade dela. Para falar um pouquinho mais sobre esse assunto, convidados a psicóloga Juliana Gomes para aconselhar sobre o que fazer para mudar esse quadro nas crianças.

Entender o porquê

Se você perceber que seu filho tem mentido muito sobre um determinado assunto ou contexto, procure entender o motivo. Pode ser medo de desapontar os pais, medo de ser punido, se ele tem benefícios quando mente, se está com medo de uma situação, se acontece só com os pais ou se acontece com outras pessoas.

Tente entender o que está por trás da mentira. Uma criança que sofre violência na escola pode mentir que está com dor de barriga para não precisar ir à aula. Ao entender o motivo, os pais podem e devem intervir tanto com relação a causa da mentira quanto com relação a própria mentira. Mostre que existem outros caminhos possíveis para resolver o problema e que você irá encontrar uma solução junto com seu filho.

O que fazer

Em algumas situações as crianças mentem com a intenção de fazer mal a alguém, e isso precisa de uma intervenção. Deixar a criança sem assistir o que ela gosta, sem ir ao passeio que gostaria. O quanto antes os pais intervirem, menor as chances disso continuar e mais rápido ela irá aprender.

Se a criança é vista como uma criança boazinha, ela pode mentir pra continuar sendo boazinha, não confessando as travessuras já que quem faz travessuras são pessoas más (por isso é importante não rotular). Neste caso, explique que todos erram, que é possível tentar consertar ou amenizar os danos do que foi feito e que é muito importante assumir os erros.

Outra razão para a mentira é quando os pais não estão dispostos a mudar de opinião e não querem ouvir os argumentos do filho. Por exemplo, quando a mãe não deixa a filha sair com os amigos, ela pode dizer que está indo na casa de alguém fazer trabalho da escola, quando na verdade está indo ao shopping escondida. Em casos como esse é importante ouvir os argumentos da filha, estar aberto a negociar e juntos vocês encontram soluções.

Ajude seu filho

Conforme os filhos crescem, maior autonomia e responsabilidades devem ser dadas a eles. Estabeleça uma relação de confiança com seu filho e ele se sentirá confortável para dividir informações com você, além de criar senso de responsabilidade.

Também é muito comum a criança/adolescente mentir porque sabe que se disser a verdade o castigo será duro demais. E aí é preciso bom senso dos pais. Alguns pais são muito duros com os filhos e dão castigos severos para coisas simples. O castigo/punição/correção precisa ser proporcional ao ato da criança, e uma conversa sensata e equilibrada é mais válida que gritos, escândalos e surra. 

Valorize a honestidade. Não estou dizendo para deixar o comportamento “errado” de lado, mas quando o filho conta algo errado que fez e os pais agem de forma sensata e sem agressividade, ele se sente mais confortável para contar uma próxima vez.

Se é a primeira vez, talvez uma conversa explicando certo e errado já resolvem. Se a criança faz algo errado e confessa, a confissão deve ser elogiada e juntos vocês podem resolver o problema. Por exemplo, se a criança quebra a janela do vizinho jogando bola e te conta, agradeça e elogie pela honestidade e o ajude a lidar com as consequências. Procure aplicar uma consequência relacionada ao comportamento, ou seja, se a criança pintou a parede com tinta, peça que ela limpe.

Substituindo o castigo severo por uma conversa sensata e punição apropriada os pais mostram que o filho não precisa ter medo da verdade. Os filhos costumam ser mais honestos quando os pais são acessíveis e quando sabem que a honestidade irá agradá-los.

Mentiras por idade

Mentira é algo que acontece na maioria das relações e há diversas discussões em torno disso. Há quem acredite que algumas mentiras são boas, há quem acredite que a verdade deva ser dita sempre, há quem ache que quando o motivo é bom não tem problema mentir, e por aí vai.

É importante estar atento já que a criança aprende a mentir e pode manter esse comportamento para conseguir algo favorável, benefícios, proteção e evitar situações desagradáveis.

Na maioria dos casos, a mentira é considerada um problema e pode causar consequências negativas. No entanto, nas interações sociais, percebe-se que mentir pode ser apropriado para manter bons relacionamentos e possibilitar boas convivências. Um exemplo é quando alguém pede uma opinião sobre a roupa que está usando e a pessoa não acha atrativo, ou quando a avó pergunta se você gostou do presente que ela deu e você não diz a verdade.

Mas é importante trabalhar esse assunto com as crianças. Segue abaixo uma pequena lista sobre a idade e mentiras que as crianças contam, baseado no que a psiquiatra Dra. Elizabeth Berger diz:

Entre 2 e 3 anos de idade – a fala está em formação, é a fase dos amigos imaginários e as crianças ainda não sabem distinguir a verdade e o que é imaginação. Elas têm dificuldade em discernir a realidade, sonhos, fantasias e medos, além de criar histórias para poder dar sentido ou explicar a realidade. Também acontece da criança esquecer algumas memórias e criam histórias para preencher essas lacunas na mente. Isso costuma desaparecer com o tempo.

A criança pode insistir dizendo que não foi ela quem pintou as paredes, mesmo os pais sabendo que foi. Quando algo assim acontecer, tente uma resposta que incite a dúvida, como: É mesmo? Isso na sua roupa parece tinta”, ajustando o tom de voz para a criança perceber a dúvida.

Dessa forma você mostra que sabe que ela está mentindo e a ajuda a diferenciar a verdade da mentira. Nessa idade eles são muito novinhos para serem punidos por mentiras, mas é possível encorajar a sinceridade. Contar histórias infantis que falem sobre mentiras ou o valor da honestidade pode ajudar.

4 anos – as crianças começam a verbalizar mais, ela pode mentir mais e pode dar respostas óbvias e diretas ao ser questionada. Aproveite as oportunidades para introduzir o assunto (o ideal é logo após ela ter contado a mentira, pois a memória estará fresca). Nesta fase os pais podem ser mais diretos e explicar o que é verdade e mentira, e dizer por que mentir não é bom e ser honesto é importante.

Em resposta a uma mentira, seja firme e questione: “Você tem certeza que isso aconteceu? Não me parece que foi assim mesmo”. Também elogie se a criança for honesta e te falar a verdade.

Entre 5 e 8 anos – eles começam a mentir para testar até onde podem ir, e tentar escapar sem ser descobertos. As mentiras são fáceis de serem percebidas ou descobertas, além de costumar ser de menor dano. É uma ótima oportunidade de conversar abertamente e explicar o certo e errado. Procure elogiar quando ele for sincero e honesto, mesmo tendo feito algo inadequado. Eles também são muito observadores, então é muito importante os pais serem bons modelos, cuidando até com as mentiras consideradas “bobas”, como: “diz pro fulano que eu não estou em casa”.

Entre 9 e 12 anos – eles já compreendem bem o conceito de verdade e mentira e estão incorporando à sua identidade os valores de honestidade e confiança. Também já entendem muito bem as consequências de suas ações e ter maior sensação de culpa. É muito importante um relacionamento aberto com seu filho e conversas sobre honestidade e as consequências de cada ato, tanto na vida do próximo, quanto na vida dele, como perder credibilidade quando conta uma mentira.

Dos 13 em diante – os adolescentes já têm consciência dos seus atos e precisam ter consciência das consequências desses atos. Mentiras sobre tarefas escolares são comuns, e cabe aos pais lembrá-los das consequências disso, como nota ruim e/ou reprovação escolar. A mentira não irá evitar as consequências dos atos, eles podem perder a credibilidade com os pais e outros adultos e com isso não ter autorização pra fazer atividades que gostariam.

Veja também:

Como criar novos hábitos nas crianças
Expectativa dos pais X expectativa dos filhos

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Texto: Psicóloga Juliana Gomes
Fotos via: Bbel | Reconstruye | Bunte.de | Huffington

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