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{Adoção} Perguntas Comuns e Respostas – Parte 2

Continuando nossa série com a psicóloga Juliana Gomes sobre adoção, hoje vamos compartilhar as perguntas mais comuns feitas por quem tem o desejo de adotar, e respostas que possam te ajudar nessa caminhada.

Há algumas semanas compartilhamos os primeiros passos, tudo o que você precisa saber sobre ADOTAR uma criança. Vocês têm esse lindo desejo no coração? Então leia o post que está completinho.

  • O que é o abrigo?

As instituições de abrigo têm a função de acolher e assistir crianças e adolescentes que, por algum motivo, tiveram que ser retiradas de suas famílias biológicas ou foram por elas abandonadas. O abrigamento deveria ser temporário, já que é primordial à reintegração familiar ou o encaminhamento para uma família substituta. Entretanto, a permanência no abrigo pode se estender até a maioridade, e nesses casos a instituição torna-se responsável pela criança.

  • O que são grupos de apoio a adoção?

Os grupos de apoio a adoção oferecem suporte emocional, prestam informações jurídicas sobre adoção e são um ambiente de troca de experiências entre pretendentes à adoção, familiares e simpatizantes da causa; além de ajudar os adotantes a se prepararem para receber essa criança e até a contar como foi o processo de adoção. Nesses grupos pais adotivos também participam das reuniões e relatam suas experiências sobre o período de adaptação, convívio com a família e dificuldades da paternidade/maternidade no cotidiano.

  • Crianças institucionalizadas são traumatizadas?

Quando uma criança é disponibilizada para adoção normalmente ela já passou por diferentes situações marcantes em sua vida, sendo recém-nascida ou não. Ela passou por um longo sofrimento ao perder o convívio familiar e o prolongamento entre a separação da mãe e/ou família biológica e o amparo pela nova família podem deixar marcas no desenvolvimento da personalidade e dificultar o vínculo inicial, pois a criança se sentiu desamparada por um longo tempo e sente medo de ser abandonada novamente.

Ao ser adotada, o contato com a nova família e um bom acolhimento podem ajudar a criança a se sentir compreendida e superar as faltas e traumas que ela passou. Tudo irá depender do quanto essa nova família está disposta a investir e se dedicar. A criança em adoção tem sua história, é preciso respeitar isso, e ao invés de tentar fazê-la esquecer o que passou, entender o que aconteceu e ajudá-la a ressignificar sua história, ou seja, dar um novo significado e construir uma nova história dali para frente.

  • E se ela for uma criança com comportamento difícil?

Todas as crianças testam os pais, inclusive filhos biológicos. Eles testam para saber até onde podem ir, o que podem fazer, como os pais irão reagir diante de cada situação e se irão continuar amando-as independente de suas atitudes.

Algumas crianças podem ter dificuldades para estabelecer novos vínculos, serem mais desconfiadas ou agressivas, principalmente no início, pelo medo que elas têm de não serem aceitas e serem abandonadas novamente.

É como se elas estivessem perguntando “se eu me comportar mal, vocês vão me devolver?”. Claro que elas não querem ser devolvidas, mas eles precisam saber que foram adotados para sempre, que são amadas e que a partir de agora essa é a família delas. Elas querem saber se esses pais realmente a querem, se ela pode confiar neles e se podem se abrir e mostrar suas vulnerabilidades e o amor que têm para oferecer.

  • Posso devolver se eu não gostar?

Em adoções legais, dentro da lei, os “pais” – adotantes – têm um período de convivência com a criança que gostariam de adotar, ou seja, eles passam tempo juntos no abrigo para se conhecerem, saem para passeios, participam de festas juntos no abrigo e só depois disso a criança vai para a casa dos possíveis pais. Esse período de convivência é extremamente valorizado e permite que os laços e vínculos se desenvolvam e as dificuldades e dúvidas sejam desfeitas.

A devolução – ou novo abandono – provoca intenso sofrimento tanto nas crianças quanto nos adotantes, por isso é importante pensar sobre o assunto e ter auxílio psicológico, tanto para lidar com as frustrações e medos quanto para dar suporte emocional para a criança.

Essa nova família será acompanhada por um tempo pelo serviço social e, se de fato não houver uma adaptação de uma ou ambas as partes, se considerar inviável a permanência da criança na família substituta, ocorre o seu abrigamento, sendo realizada uma audiência especial que antecede a formalização da desistência.

  • E se eu não amar meu filho?

Quando a mãe e/ou pai adotam um filho, as relações vão se estreitando aos poucos. Com a convivência, o vínculo e o amor vão sendo desenvolvidos de forma gradativa, dia após dia, com os momentos que eles passam juntos. O laço afetivo vai sendo desenvolvido à medida que os pais suprem as necessidades da criança, sejam elas físicas ou emocionais. O afeto necessita de proximidade tanto física quanto emocional.

Algumas mães, quando estão grávidas, também se preocupam se sentirão o tão famoso amor instantâneo quando o bebê nascer. É aquele amor que muito se fala de que, assim que o bebê nascer e a mãe olhar para ele, automaticamente o amor incondicional irá nascer dentro dela e ela irá amar o bebê mais do que ela ama qualquer coisa na vida. Nem todas as mães sentem esse amor instantâneo, e não há nada de errado nisso. Em qualquer relação, o amor vai sendo desenvolvido e construído, ao conhecer um ao outro, sua personalidade e passando momentos juntos.

  • E se meu filho não me amar?

Amor e afeto são uma construção. Não são só os pais que adotam os filhos, os filhos também adotam os pais. Quantos pais biológicos não sentiram medo dos seus filhos não o amarem? Esse é um medo comum, que tanto pais biológicos quanto pais adotivos podem sentir. Amor se desenvolve à medida em que vocês constroem um vínculo e estão dispostos a amar.

  • E se meu filho preferisse ter outros pais?

Enquanto está no abrigo a criança idealiza como seria sua nova família, sua casa e sua vida. Isso é natural e saudável para ela. Mas conforme ela conhece os futuros pais durante o período de convivência, ela pode se adaptar e passar a imaginar a vida com esses novos pais e essa nova família.

  • Filhos adotivos têm os mesmos direitos de filhos biológicos?

Desde 1988, a Constituição da República Federativa do Brasil igualou os direitos dos filhos biológicos e adotivos. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), define adoção como medida excepcional e irrevogável e “atribui a condição de filho ao adotado com os mesmos direitos e deveres, inclusive os sucessórios”.

  • Devo ignorar a história anterior da criança?

Todos temos uma história. Um bebê tem uma história, crianças maiores também têm uma história. Elas moraram em abrigo, sabem o que é ter tido uma família e ser retirada dela. Essa é a história deles! É preciso respeitar isso e ter paciência. Dê apoio, ouça esse filho e o ajude a falar sobre seus sentimentos e fantasias relacionadas à sua adoção. Acolha e a ajude a ressignificar isso e construir uma nova história daí pra frente.

  • E a história anterior da criança? Eu não sei quem são seus pais biológicos. Isso irá determinar seu futuro?

Existe um estereótipo que filhos adotivos são emocionalmente instáveis, agressivos e/ou problemáticos. Pode ser verdade, já que muitos são negligenciados e abandonados e precisam de apoio para superar isso, além de se sentir confiantes e acreditarem que isso não acontecerá novamente.

Mas é importante lembrar, ou aprender, sobre a capacidade de resiliência do ser humano. O passado não determina o futuro. Em se tratando de comportamento humano e personalidade, todos temos fatores genéticos e isso não significa que as características não possam se aperfeiçoar ou mesmo se redirecionar diante das novas circunstâncias no ambiente.

Claro que em casos de doença genética, síndromes ou uma má formação, por exemplo, isso não pode ser mudado. Essa característica não deixará de existir por conviver em um ambiente diferente.

  • Preciso de atendimento psicológico? E a criança?

É muito importante que os pais e a criança tenham um acompanhamento psicológico durante a constituição do vínculo familiar. O psicólogo procura realizar atendimentos e orientações com o objetivo de auxiliar na promoção de um bom ambiente para a criança, facilitar a adaptação entre a criança e a família. Ele poderá ajudar a criança em seu luto pela família de origem assim como aos futuros pais adotivos a lidarem com a adaptação, frustrações e até ataques e rejeição da criança.

  • Posso dar broncas nele como em um filho biológico?

Os pais adotivos podem educar, dar carinho, atenção, amor e cuidado da mesma forma que fariam com um filho legítimo.

  • Ele precisa saber que foi adotado? Como contar? O que precisa ser revelado?

A família adotiva tem a mesma essência da família genética, com a diferença de que a criança adotiva tem uma história anterior, uma família anterior – e os pais precisam aceitar isso – e há necessidade de revelar e conversar com o filho sobre a adoção. Tanto faz se biológicos ou adotados, todos querem saber sua história, como se tornaram parte da sua família, como eles eram quando mais novos…

É fundamental que os pais conversem desde cedo e estejam atentos a outros momentos em que o filho mostre interesse sobre o assunto. Assim, conforme eles crescem, vão entendendo e aceitando naturalmente o fato.

Se os pais adotivos prolongam o momento de contar, mais complexa é essa tarefa; além do risco da criança descobrir de modo inapropriado ou por meio de terceiros, trazendo dificuldades para a dinâmica familiar uma vez que a confiança do filho em relação aos pais pode ficar abalada.

Um exemplo, alguns pais contam uma história sobre um presente que foi dado a uma família jovem, mas elas não podiam ficar com o presente, então resolveram doar para que alguém cuidasse dele.

  • Quando devo contar?

Se você adotou uma criança pequena, pode ser que ela não se lembre sobre. Então o quanto antes você for introduzindo o assunto, melhor será. Também não é um dito uma única vez, mas sim deve ser dito de forma contínua em diferentes idades. A revelação precoce não assegura que a criança compreendeu 100% o que lhe foi revelado, portanto a conversa deve ser repetida ao longo do desenvolvimento dela.

Não é necessário fazer uma reunião de família para isso, o melhor é ir conversando naturalmente sobre a história da criança, o desejo dos pais em ter um filho, como surgiu a ideia da adoção… Conte sobre como foi a história desde antes da adoção, crie um livro da vida – alguns abrigos fazem esse livro e dão para as família no momento da adoção para que continuem completando-o em casa –, uma espécie de álbum de fotos sobre a história da criança, a decisão de adotar e textos ou frases descritivas. Isso a ajuda a compreender seu passado e presente, ter lembranças de seus primeiros anos de vida, além de ser uma linda recordação e uma ótima atividade pra ser feita em família.

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Texto: Juliana Gomes

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