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Relato de Parto Normal: 14 horas de dor e amor

Amamos compartilhar com vocês relatos de parto das nossas leitoras. É muito emocionante reviver através dessas histórias o nosso próprio parto. Conseguimos imaginar a dor e a força que vem nesse momento tão especial pois enfrentamos a mesma coisa no nascimento da Chloe e do Pedro, como já contamos por aqui.

Nossa sugestão é que quem está grávida lesse todos esses relatos de parto para que, dessa forma, se preparasse para o seu grande momento através de experiências de outras mães! A realidade é que nunca estaremos totalmente prontas, as coisas não são do jeito que planejamos e a maternidade vem exatamente para nos mostrar essa verdade. Esqueçam os planos, se preparem para as grandes surpresas.

Hoje, a mamãe Wal abre o seu coração e compartilha a chegada inesperada e surpreendente de 14h de dor e amor com a chegada do Theo.

“Comecei a escrever esse texto no dia seguinte ao parto de Theo. Mas, todas as duzentas vezes, parava por medo de ser mal compreendida. Até que eu percebi que se trata do meu relato. Meu. Minhas impressões. De modo que eu não deveria ter medo do que as pessoas vão pensar.

De cara, já aviso que não acho que a forma como um bebê vem ao mundo determina se sua mãe é menos ou mais mãe, melhor ou pior; são apenas escolhas diferentes, casos diferentes, vidas diferentes.”

A surpresa

“Na noite anterior ao parto estava tudo absolutamente igual aos últimos dias: pés inchados, dores nas articulações, dificuldade para dormir e outras coisas mais. Fomos a um aniversário e eu comi muitas bobagens e dancei até o chão. Quer dizer, quase até o chão.

Chegamos em casa e já passava da meia noite. Fomos dormir, e às 3:45h acordo com um estampido. Acendi a luz e o lençol estava todo molhado. Fui ao banheiro e tentei segurar o líquido. Não consegui, a bolsa rompeu. Liguei para a doula que me orientou a cronometrar as contrações, estava 5 no intervalo de 10 min. ‘Venha para o hospital’, disse ela.

15 minutos foi o tempo que levou para que as contrações que causavam pouco incômodo se transformassem em uma dor alucinante. Acordei meu marido dizendo que a bolsa havia estourado, ele arregalou os olhos, se arrumou e começou a colocar tudo no carro. Minha mãe acordou com a movimentação, e às 5h saímos todos de casa.”

A dor

“As contrações eram tão dolorosas e quase que ininterruptas que eu pensei que teria meu filho no carro. Mas, chegamos lá e eu só estava com 6cm de dilatação (o período expulsivo se inicia com 10cm), logo todos foram unânimes em afirmar que com aquela intensidade de contrações Theo chegaria logo. Fomos para o quarto com banheira, massagem, bola de pilates… Nada funcionou! Parecia que o menino estava entrando e não saindo. Chuveiro com água quente foi a única coisa que amenizou um pouco a dor. Passei horas embaixo do chuveiro.”

“Em certo ponto a pressão começou a subir e tive que abandonar os planos de parto na água para ficar próxima ao bloco cirúrgico. Meio dia. As contrações continuavam fortes e nada espaçadas. Eu estava exausta. Implorei por analgesia. A doula me implorava que continuasse porque o Theo já estava vindo, mas eu mal me aguentava em pé, já não conseguia fazer força.

Logo em seguida veio a obstetra, fez o toque e constatou que uma parte da bolsa ainda não havia estourado. Sugeriu que estourássemos. Provavelmente Theo ainda não tinha descido por isso. Busquei o restinho das forças e concordei. Passamos mais duas horas embaixo do chuveiro e ele descia, descia, mas bem devagar. Chamei a obstetra e disse que se não tomasse anestesia ela podia cortar e tirar o menino porque eu não aguentava mais, daquele jeito ele não sairia.

Fomos para a sala de anestesia. Equipe de extremo bom humor. Teria cerca de duas horas para tentar fazer Theo sair. Soro com ocitocina, banqueta, caminha, banqueta de novo, força. “Tem que fazer força de cocô”, e pela milésima vez eu fiz cocô. Literalmente.

16h, a anestesista passa no quarto e me avisa que a dor pode voltar a qualquer momento. Peço outra dose de analgesia. O obstetra precisava me avaliar. Enquanto eu aguardava cerca de meia hora, a a dor já estava de volta com tudo. Ele faz o toque e eu fui na lua e voltei. Nunca havia sentido tanta dor.

Ele autoriza a nova analgesia mas a anestesista me adverte que continuarei sentindo dores, só que mais leves. Passo meia hora paralisada na cama. A dor é tanta que meu queixo chega a bater. Mas continuo fazendo força.”

O parto

“17:15h, já dá para sentir a cabeça de Theo. ‘Coroou!’, eu suspiro. Agora vai! A obstetra coloca uma playlist com músicas calmas, baixam a luz, eu começo de fato a sentir ele saindo e faço força, então a cabeça sai. A obstetra manobra o ombro. Outra contração. Ele sai inteiro e vem direto para os nossos braços. Todo ensanguentado. Os olhos mais lindos que eu já vi na vida.”

“Demorou um pouquinho a chorar e a neonatologista decide levá-lo do quarto. Fico esperando a placenta sair, até que a obstetra decide tirá-la. Me dou conta que eu não senti dor durante o expulsivo. Círculo de fogo? Não identifiquei. Mas percebo depois que a saída do Theo causou um certo “estrago”, medido em uma quantidade de pontos que nunca saberei. E, não importa!”

Muito amor

“Theo volta para o quarto, coloco ele para mamar e agradeço por estar bem e por ter tido tanta gente emanando boas energias ao meu lado. É isso. Para mim ficou a lição de que parir é ‘animal’. Em várias acepções da palavra. Envolve dor (muita, no meu caso),  lágrimas, gritos, medo, força, sangue, suor, excrementos. Envolve não sentir pudor e buscar forças onde já não há.

Mas também envolve carinho, cuidado e instinto. Dar a luz é a definição do ser humano tentando racionalizar, cronometrar, assear, romantizar… Parir é sujo mesmo. Irracional, e tudo bem. No alto da minha racionalidade disse que não aguentaria 12h de trabalho de parto. Aguentei 14h, com contrações intensas praticamente a cada cinco minutos.
Gritei, chorei, ri, me desesperei, tive medo, quase desisti. Pari. E faria tudo de novo (mas tomaria anestesia antes, hahaha). Pari.”

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Fotografia : Hayana Sindra

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4 comentários

  1. Se eu disser que deu vontade de parir de novo vocês vão me achar muito louca? 😄 Obrigada pela delicadeza em publicar o meu relato e de tantas outras mães. Continuem com esse trabalho incrível que admiro tanto! Um beijo!

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Junia Lane