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{Relato de Parto} Agenesia Renal Bilateral – Parte 2

Ano passado compartilhamos a história do Paulo, que ainda em formação foi diagnosticado com Agenesia Renal Bilateral, ou seja, ele não possui os dois rins.

A mamãe Heloisa contou em detalhes a descoberta, a decisão, expectativa e luta com seu bebezinho ainda na barriga. E hoje ela está dividindo os últimos meses de amor e fé.

“O dia 08/10/18 vai ficar para sempre marcado em nossas vidas. Foi nesse dia que nosso filho Paulo nasceu, porém sem vida. Vou contar como tudo aconteceu desde o meu último relatório aqui no blog.”

Último trimestre

Durante o último trimestre minha gravidez continuou tranquila. Apesar do diagnóstico de agenesia renal bilateral (ausência dos dois rins, situação incompatível com a vida fora do útero) e falta do líquido amniótico, o Paulo mexia bastante, principalmente quando eu sentia cheiro de comida… Aí ele se empolgava todo. Eu ia à médica a cada 3 semanas e só fiz mais um ultrassom (sem o líquido as imagens ficam bem ruins) com 37 semanas para estimar o peso dele. Nesse ultrassom, descobrimos que, na verdade, eu estava com 2 semanas a menos. Então, marcamos a indução do parto para o dia 08/10/18, quando eu estaria de 38 semanas e 5 dias. O Paulo estava sentado, então ele não podia estar muito grande para tentarmos o parto normal.

O parto

Na noite anterior dormi a noite toda, nem eu achei que isso seria possível, mas estava tranquila, até mesmo quando acordei na segunda-feira. Fomos para o hospital antes das 6h e começaram a indução às 7h30, mais ou menos. Fomos aconselhados a não fazer a tococardiografia no Paulo, pois como sabíamos da condição dele, poderia nos causar um estresse maior durante o trabalho de parto. Depois de algum tempo fui para o quarto. Chegando lá, tomei o café e já chegou a obstetriz que me acompanhou durante o trabalho de parto. Caminhamos pelo hospital, subimos duas vezes 7 andares de escada rebolando (ou tentando, sou muito dura) e encontramos com a nossa família nos corredores, eles estavam lá para nos dar força! O meu marido me acompanhou em tudo isso, foi um parceiro e tanto, ele só não rebolou na escada… rs

Quando subimos a segunda vez as escadas, minhas contrações já estavam a cada 2 minutos. Fomos para o quarto e lá por volta das 11h30, eu já estava com 4 cm de dilatação. Aí fiquei fazendo exercício na bola de pilates. Cada contração sentia bastante dor, mas consegui aguentar! A cada dor o meu marido fazia massagem nas minhas costas e melhorava bastante. Quando a dor ficou muito forte fomos para o centro de parto. Lá encontrei a minha médica. Nisso eu já estava chamando o anestesista… Depois da analgesia tudo ficou tranquilo de novo. Até brinquei com meu pai, que também é anestesista, falei que sempre valorizei a profissão dele, mas que agora vejo a diferença que faz…

Nessa hora eu até comecei a brincar que ia avaliar cada profissional que estava comigo. O anestesista, logo após a anestesia, tirou 10. A obstetriz também já estava com quase 10, aí ela me ofereceu comida e tirou 10 também. Senti a presença de Deus nesse momento. Apesar de toda situação, eu estava em paz, uma paz inexplicável de que tudo ia acontecer da melhor forma. Apesar de toda tensão, o Paulo continuava sentado e, com isso, seria um parto pélvico, tudo, no meu ponto de vista, foi tranquilo.

O tempo foi passando e começamos a treinar a força que eu deveria fazer quando a hora chegasse. A cada contração eu treinava, até que, de repente, a Dra Diana falou: é agora. Todos da equipe começaram a se paramentar, colocaram o meu marido sentado ao meu lado, meus pais e irmã ao lado dele. E como diz minha irmã: parecia filme, todo mundo estava sentado e de repente estava tudo pronto!! Mesmo nessa hora estava tudo em paz; lembro de olhar o rosto de cada um dos meus familiares e, apesar de ver algumas lágrimas e sentir algumas também, não vi e nem senti nenhum desespero. Segurei a mão do Fernando, me concentrei e quando menos esperava percebi que ele tinha nascido às 16h44. Foi o momento mais “estranho” da minha vida, não parecia que estava acontecendo comigo.

Logo que o Paulo nasceu, não ouvimos seu choro e a médica o colocou em meus braços. Lembro que logo que o peguei, falei com a voz embargada: “Ele é tão bonitinho!”, e comecei a chorar. Demorou para cair a minha ficha que ele já estava sem vida, mas eu só conseguia ver aquele bebê tão bonitinho.

Então, o Fernando veio e o pegou no colo, começou a chorar. Pouco tempo depois, levaram o Paulo para limpá-lo. Quando o Fê o trouxe de volta, consegui reparar nos detalhes da sua fisionomia, do seu rostinho. Ele tinha um narizinho que era a mistura do meu com o do Fê, dedinhos bem compridos, um cabelinho escuro e uma boquinha tão bonitinha!! Naquele momento, esqueci de tudo que vivi nessa gestação e só quis segurar o meu Paulo. Depois perguntei se minha mãe queria segurá-lo e ela o pegou. E depois minha irmã e meu pai.

A equipe médica pesou o Paulo e ele tinha 2,345Kg. Assim que terminaram os procedimentos, a equipe médica se despediu e deixou que ficássemos o tempo que quiséssemos com ele naquele momento. Foi muito triste, mas, ao mesmo tempo, lindo. Não sei explicar, senti a emoção de cada um que estava presente naquela sala. Cada um da nossa família que estava lá pôde entrar e ver ou segurar o Paulo, caso quisesse.

Eu pensei que teria alguns momentos com ele com vida. Mas Deus, em sua infinita sabedoria, não permitiu. Depois, conversando com a minha mãe, chegamos a conclusão que foi o melhor, afinal, dessa forma ele não sofreu com a dificuldade de respirar.

Quando não se tem o líquido amniótico, os pulmões do bebê não amadurecem e eles não conseguem respirar. Acredito que Deus nos poupou de ver o sofrimento do nosso bebê!

Depois de algum tempo, eu permiti que o levassem embora e minha mãe fez uma oração agradecendo por aquele dia, por Deus ter feito a vontade dEele, apesar dela ser diferente da nossa, pelo cuidado dEle comigo e com o Fernando. Depois disso, fui para o quarto e recebi outras pessoas queridas da nossa família. No dia seguinte foi realizado o velório e o sepultamento, mas eu estava internada e não fui. Na verdade, preferi não ir, penso que fiz o que podia por ele enquanto ele estava comigo e quis ficar com a imagem dele no meu colo! Agradeço a Deus pelo tempo que tive com o Paulo Posso Marcandali, que marcou e mudou tanto minha vida!

Pós parto

Logo após o parto tive que tomar um remédio para secar o leite e usar um top bem apertado. Fiquei 2 dias internada e quando saí fui para casa da minha mãe, assim além do cuidado do Fernando tive o cuidado dos meus pais, irmã e cunhado. Foram dias difíceis, mas meu choro sempre foi de saudade e nunca de revolta ou desespero. Tudo o que tenho passado me fez ver que é fácil ser grata a Deus quando tudo vai bem, mas que mesmo na adversidade devemos ser gratos Àquele que faz tudo perfeito.

Tem horas que ainda dói pensar em tudo, mas mesmo nessas horas tenho paz de que fiz tudo o que podia e, principalmente, obedeci aquilo que sempre acreditei.

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4 comentários

  1. Lindo relato. Também sou mãe de anjo. Minha bebê foi diagnosticada com hérnia diafragmatica congênita e depois os especialistas também descobriram agenesia renal do lado esquerdo e atresia duodenal. Ela sobreviveu por 22h na uti e descansou nos meus braços. Enquanto lia seu texto percebi mais uma vez a bondade de Deus. Você falou que sentiu paz e a mesma coisa que eu sempre falo. A dor é dilacerante, mas existe paz. E essa paz sempre estará conosco. E essa humanização no luto é maravilhosa. Tive minha bebê no hospital das Clinicas em SP, e quando ela partiu pudemos ficar com ela pelo tempo que sentimos, só ela, eu e o papai. Numa sala, namorando ela. Foi muito especial. Um abraço apertado.

  2. Hola te admiro mucho he leído tu historia dos veces estoy pasando por esta misma situación hoy 10 de agosto 2021 tengo 24 semanas de embarazo y mi bebe le diagnosticaron agenesia renal bilateral es muy difícil aceptar esto si pudiera ayudar a mi bebé en algo pero Dios todo lo hace espero con el tiempo entender el para que me puso esta prueba tan difícil 😭

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Junia Lane