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{Parto Normal} A chegada inesperada da Olívia

O dia em que o bebê chega ao mundo, independente do tipo de parto, é o dia mais feliz para os pais. Para a mãe, em seus braços, aquele serzinho que você gerou e carregou por muitas semanas agora do lado de fora é a concretização de um sonho. E para o pai, poder tocar de verdade, sentir a pele, o cheiro e conversar pessoalmente com o bebê tão amado é uma sensação incrível!

Mesmo com muito planejamento, a vida sempre nos surpreende e nos mostra que, maiores que nossos planos, o que Deus quer sempre prevalece. E vimos isso em todos os relatos que já passaram por aqui e nos emocionam a cada parágrafo que a mãe escreve. Como a cesárea humanizada da Vivian; o parto natural em casa da Fran; a mamãe de UTI e muitos outros.

Hoje vamos compartilhar com vocês o Relato de Parto da Muriele, que tirou toda a força do poder de Deus e conseguiu ter o parto que mais temia depois de 17horas.

O maior medo tornou real

Antes de conseguir trazer à memória tudo que vivi nas mais intensas 17 horas da minha vida, eu preciso que você, que está lendo esse relato, entenda que o meu sentimento em relação ao parto normal nunca foi um medinho, nojinho ou qualquer outra sensação assim no diminutivo. Era pavor. Desespero. Um monstro limitante e ameaçador. Dito isso, sigamos.

Descobri que estava grávida depois de três meses de oração e tentativa. Em meio a fantástica novidade, uma preocupação gritava: como eu encontraria coragem pra encarar o parto (já mencionei o medo do PN, mas saiba que também não existia na minha cabeça a possibilidade de fazer uma cesárea). Meu marido e eu apresentamos a situação a Deus e eu decidi que não decidiria. Isso mesmo. A última palavra viria Dele e eu queria deixar o curso de Seu rio fluir e me conduzir ao melhor caminho. O Alysson tentava tornar as coisas naturais e, sempre que se referia ao nascimento da nossa pequena, falava como se tivesse certeza que seria PN. Eu sorria e o ignorava com sucesso.

A propósito, tenho uma amiga, a Jamila Costa, que super defende o parto normal, e ela começou a me mandar aquele tanto de artigo sobre o assunto. Eu lia tudo, mas nada parecia conseguir me tranquilizar. Me lembro de falar: “amiga, o problema não é falta de informação… O caso é tão sério, que só o Espírito Santo é capaz de me convencer”. Com muito respeito, ela recuou e passou a orar por mim.

Tentando não ser prolixa, o resumo é o seguinte: de forma sobrenatural, inexplicável, linda e surpreendente, quando me vi, lá estava eu convicta de que queria “parir” (até então, essa palavra parecia ofensiva pra mim). Não tenho dúvidas de que foi Deus. Quem me conhece, também tem certeza que realmente foi. Essa clareza sobre o que eu queria pra mim e pra minha Olívia só chegou no sétimo mês de gestação. Uma loucura! Não tive tempo pra fazer os exercícios indicados, a não ser a dança… Um momento mágico entre mim, meu marido e nossa filha. Na verdade, meu preparo foi mais psicológico e espiritual. Eu precisava  romper com barreiras emocionais e ressignificar o parto, fortalecendo a minha mente pra não desistir.

A espera e o desespero

A espera se tornou bem difícil nos últimos dias de gravidez… Eu buscava sinais, queria encontrá-la. Enquanto isso, passava horas no quartinho, sempre ouvindo a playlist que fiz pro parto, orando e me acabando em lágrimas. Entre as músicas, a que mais me acalmava trazia um recado do Pai pro meu coração: “é meu, somente meu, todo o trabalho, e o seu trabalho é descansar em mim”. E descansei.

Quando completamos 39 semanas e 3 dias, fomos fazer uma cardiotocografia para checar a vitalidade da Olívia. O exame registrou três contrações em 15 minutos e o toque (coisa horrorosa) constatou que eu estava com 3 cm de dilatação, sem sentir nada, apenas com as contrações de treinamento que eu já tinha havia bastante tempo.
A médica pediu a internação. Foi um momento de desespero pra mim e pro Alysson (planejávamos ficar em casa durante grande parte do trabalho de parto e ir pro hospital apenas com a dilatação mais avançada).

Abraçados, repetimos: “Deus não perdeu o controle”. Saímos do hospital pra buscar as coisas, sem rumo. Não conseguíamos encontrar a chave do carro. A essa altura, a família estava sabendo. Uma prima, amiga e intercessora passava por perto e parou na frente do hospital pra orar por nós. Vi o carro dela do outro lado da avenida. “A Glenda tá aqui”! Um abraço e uma oração ali mesmo, na porta do hospital, me lembraram de quem eu era e de onde estava alicerçada a minha confiança. Já em casa, eu e o Alysson oramos de novo, no quartinho. Fui pro chuveiro e pensava: “será que é hoje mesmo”? Minha doula chegou (abro um parêntese pra dizer: contrate uma. Doula não é gente, é anjo). Voltamos pro hospital, e depois de mais uma cardiotocografia, o alívio… Podíamos ir embora. Ufa! Alarme falso.

A chegada da Olívia

No outro dia, sexta-feira, enquanto contemplava a chuva, eu disse pra Deus: “tô bem achando que a Olívia vem num tempo assim, chuvoso, como foi o dia das fotos e do chá surpresa que ganhei das minhas amigas”. Dito e feito. Eram nove e meia da noite quando começaram as contrações. Uma dorzinha leve, com intervalos entre três e dez minutos. Monitoramos em casa mesmo, até por volta de 1h30 da manhã. A médica pediu pra irmos ao hospital e a obstetra de plantão decidiu me internar. “Deus não perdeu o controle”. Minha médica chegou e viu que eu continuava com os mesmos 3 cm do dia anterior.

Fomos pro quarto, eu, Olívia, Alysson e a Milca (doula). Pouca iluminação, meu marido o tempo todo ao meu lado, minha playlist tocando, exercícios na bola, massagens da doula, chuveiro… Como eu desejei. As contrações continuavam moderadas. As músicas me acalmavam e nossas orações faziam com que tudo fosse ainda mais especial.
Por volta de 8h da manhã, outro toque e a dilatação tinha evoluído pouco… Estava com apenas 4 cm. A médica disse que seria preciso romper a bolsa e que, depois disso, esperaria mais 8 horas até tomar outra medida. Meu Deus… Eu quis chorar. Mas Ele tava no controle.

10h30, nada de progresso. Era a hora de tentar engrenar as contrações. E lá fomos nós. Pronto. Bolsa rota. E agora? Nem deu tempo de pensar. Imediatamente, a dor veio. Foi muito forte. Eu tinha curiosidade de saber até onde iria, até quando a intensidade continuaria aumentando, e cada onda era mais assustadora que a outra. Mas não era sofrimento. Era dor da vida. Dor que me deixava cada vez mais perto da minha menina. Fase ativa do trabalho de parto e pela primeira vez eu pensei que não fosse conseguir. Não só pensei.

“Amor, não dá mais”. Ele olhava pra mim com tanto carinho, ajeitava meu cabelo atrás da orelha e cochichava um “você consegue”, seguido de um beijo na testa. Em nenhum momento pensei em fazer cesárea, mas cogitei optar pela analgesia. O Alysson e a Milca me lembraram que não era aquilo que eu queria e que ia dar tudo certo.

“Se eu pudesse conversar com sua alma, eu diria ‘fique calma, isso logo vai passar’. Eu daria um conselho: ‘chore mesmo e, enquanto chora, aproveita pra orar'”. Eu fazia exatamente como na letra da música que ouvia. Algumas vezes, olhei pro relógio na parede mas depois de certo momento não conseguia mais pensar nisso. Aliás, por um tempo não consegui pensar em nada. “Você tá na ‘Partolândia’! Não é isso que queria”? Era a doce voz da doula. Sim, ela estava certa. Como eu queria!

Quando pensei não suportar mais a dor, durante uma contração veio a vontade de fazer força. Fiquei na dúvida se aquilo era apropriado para o momento, mas fiz o que meu corpo pediu. Já era o expulsivo. A médica disse que ia fazer outro toque. “Deus, por favor, pelo menos 8 cm”, eu suplicava baixinho. Pra minha surpresa, ela comemorou: “já tá aqui”! Então me certifiquei de que realmente tinha chegado o momento. Vem, Olívia! Dali em diante, uma longa caminhada.

“Eu espero em Ti, embora sem saber. Como Tu dirás, eu não sei, mas esperarei”. Repetia o refrão enquanto esperava a próxima contração chegar. Intervalos bem curtos. Eu já estava exausta e sempre fazia a força errada, não conseguia relaxar. Um dos momentos mais marcantes pra mim, e cruciais, pra que eu pudesse hoje compartilhar esse relato tão feliz, foi quando eu já não tinha mais condições de continuar e deixei minha voz, até então contida (tirando a parte dos gritos que podiam ser ouvidos em todo o hospital), ecoar por aquele quarto numa oração que calou todas as outras vozes ali dentro. Me lembro de dizer “Deus, não é pela minha força. Eu não consigo. É pela força do Senhor em mim. Me sustenta. Eu preciso da sua intervenção”. O silêncio da minha “equipe” foi tão respeitoso. Me acolheu.

A essa altura, eu tinha tentado várias posições. O Alysson viu por várias vezes a cabecinha da Olívia apontando. Mas ela não vinha pra fora e a médica dizia que só dependia de mim. Em uma das tentativas tive uma laceração que era um dos meus medos. Tudo bem… Não foi tão ruim como pensei. E depois de duas horas, ouvi o que eu mais temia: “eu vou te levar pro centro cirúrgico”. De novo eu quis chorar, só que não tive forças. A médica disse que a gente ia tentar mais uma vez. Eu me vi diante da minha última chance… Não sei o que teria acontecido se saísse daquele quarto. E não queria pagar para ver. O meu pedido foi quase desesperado: “Deus, tem que ser agora”. Alguém, acho que a própria obstetra, perguntou se eu queria ouvir alguma música em especial. “Coloca aquela, amor”. Começou a tocar… “Não tenha sobre ti um só cuidado, qualquer que seja. Pois um, somente um, seria muito para ti. É meu, somente meu, todo o trabalho, e o seu trabalho é descansar em mim”.

O Alysson sugeriu que eu tentasse ficar de cócoras mais uma vez. Nesse momento eu tava deitada e pensei não conseguir sair dali. Mas eu precisava tentar! Me posicionei aos pés da cama, agachei e força! Nada da Olívia. Espera! Eu tava enganada. A médica, que já estava deitada no chão, debaixo da cama (quanto respeito eu vi naquela cena), me pediu pra tocar e sentir que a cabeça dela tava ali. Que sensação! Era minha filha, minha menina mais perto do que nunca. Minha perna tremeu.

Faltava pouco! Diante da minha negativa, o Alysson abaixou atrás de mim e sustentou as minhas pernas pra que eu conseguisse. E quando é que não foi assim? Quando é que ele não foi meu suporte, minha segurança? Me senti firme e busquei em Deus a força da qual precisava. Mais um grito. O meu último. A Olívia coroou.
O “círculo de fogo” doeu bem menos do que eu tinha ouvido falar. Eu não podia parar ali. Vem, Olívia! Um pouco mais de força, e… Aconteceu!

Eu juro que não consigo explicar o que foi aquele momento. A saída dela de dentro de mim foi a experiência mais forte que já vivi. É uma sensação que não se mede, não se traduz. Eu ainda não consegui organizar as palavras pra tentar chegar perto de uma definição. Olhei pra baixo e vi a minha filha nas mãos da médica. Os olhinhos fitos em mim. Sem chorar. Com os dedinhos na boca. Que encontro! Ela veio pros meus braços. Não encontrei lágrimas, não encontrei sorrisos… Eu só queria sentir o cheiro dela, o corpinho quente, tão gostoso. Tinha acabado de sair do forninho direto pra nós. Eu e o Alysson sentados no chão. Ela ali, ainda caladinha e atenta, buscando nos reconhecer. Era como se não existisse mais nada além daquilo ali. “Obrigada, Jesus”, eu repetia.

E ao fundo, consegui ouvir a última música. “Nunca houve noite que pudesse impedir o nascer do sol e a esperança, e não há problema que possa impedir as mãos de Jesus pra me ajudar. Haverá um milagre dentro de mim, vem descendo o rio pra me dar a vida, e esse rio emana lá da cruz, ao lado de Jesus. Aquilo que parecia impossível, aquilo que parecia não ter saída, aquilo que parecia ser minha morte, mas Jesus mudou minha sorte… Sou um milagre, estou aqui”. E pra terminar, eu não vi, mas choveu muito durante todo aquele sábado.

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Fotógrafa: Thaís Bradatto

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Junia Lane