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{Imigração} O Desafio de Mudar para outro País

Muitas pessoas sonham em poder sair do seu país, seja para estudar, trabalhar ou apenas tentar a vida. Passar por uma experiência no exterior, é uma das coisas mais enriquecedoras da qual você pode experimentar! Muito crescimento e descoberta surgem quando se sai da casa dos pais, do conforto e da vida que se leva no seu país e vai tentar uma vida nova. E hoje, a mamãe Sara Campos compartilha com a gente os prós e contras, os desafios da mudança e adaptações em morar fora do Brasil.

Tomando decisões

Ela me olhou profundamente. Era uma noite tão escura que as trevas pareciam uma extensão da nossa dor. Estávamos sem esperança, tecnicamente sem casa e cansados de novidade. Aqueles olhos de um verde escuro e tons de caramelo ficaram ainda mais brilhantes com as lágrimas: “Mamãe, eu quero voltar pro Brasil.” Como eu explicaria para ela que não havia nada mais no Brasil? Como iria dizer que nunca mais teria seu quarto novamente, que nossos pés nunca mais tocariam aquele jardim que plantamos e cultivamos; que nunca mais poderíamos colher aquelas rosas perfumadas? Como eu poderia explicar que tudo fora desfeito? Casa, amigos, familiares, e tudo o que ela vivera em seus dois anos eram agora apenas uma lembrança. Eu disfarcei as
lágrimas, pois minha vontade era dizer que eu também queria voltar, me enchi de coragem enxergando o invisível, e disse: “Tudo vai melhorar”.

Eu estava no meu carro, com a cabeça reclinada sobre o estofamento com estampa de zebra, olhando aquele homem me dizer que sonhava viver em outros países. Fiquei eufórica: “É mesmo? Eu também sonho em sair do país”. Essa foi nossa segunda conversa. Na primeira, eu decidi casar com ele. Nessa, ele decidiu largar a namorada e tentar a sorte comigo.
Algum tempo depois decidimos nos casar, comprar uma casa para aumentar nosso capital e aprimorar nossa profissão. O Heberti estudou muito para se tornar Software Engineer, embora tenha se formado em Administração. Quando engravidei da Barbara, após um ano de casados, decidimos que era a hora de sair do país. Quando a Barbara nasceu, comecei a trabalhar em casa meio período, para cuidar dela e estar pronta para viver por aí. Hoje atuo como designer freelancer e também faço retratos em aquarela.

Sobre nossos motivos

Educação e melhores condições de vida são coisas boas, evidentemente, mas não foi por isso que saímos do nosso país. O que sempre nos moveu é uma intensa curiosidade de viver e experimentar. Ambos consideramos fundamental para a felicidade estar em movimento. Nunca se tratou de ter uma experiência internacional, ou juntar dinheiro, ou ter acesso a boas condições de saúde, ou proporcionar uma educação melhor para os filhos, porque nunca almejamos ter muitas posses. Acreditamos que educação se recebe em casa e que a saúde vem do que comemos.

Trata-se do sonho do menino do sítio que ia para o campo olhar os aviões com o pai, e da menina que ama desenhar e sempre ouviu dizer que é fora do Brasil que a arte tem valor.

Sobre a escolha do país

Existem centenas de programas de imigração. Pesquisamos processos de visto de trabalho para Austrália, Canadá, Europa e Estados Unidos. Títulos como “melhor saúde pública do mundo” e “um dos melhores países para se viver” nos fizeram escolher o Canadá. Um país limpo, jovem e cheio de imigrantes. Por outro lado, estávamos à disposição da companhia que contratasse o
Heberti.

Durante minha primeira gestação, o Heberti passou a buscar oportunidades de trabalho pelo LinkedIn. Em um ano, fez 20 entrevistas para trabalhar nos mais diversos países. Como nada dava certo, decidimos vender tudo e fazer o visto de estudantes para viver em Toronto. O Heberti já trabalhava remoto e continuaria trabalhando em Toronto. Uma hora depois dessa conversa, eu estava no quarto tentando organizar as ideias. O Heberti voltou do seu escritório me contando que um CTO lhe enviara um e-mail convidando-o para uma entrevista. No dia seguinte, ele estava contratado por uma Startup de Toronto. Ficamos chocados. Todas as orações desses anos todos, todos os sonhos, estava tudo se materializando diante de nós, e começava uma nova fase.

Processo para sair do país

Por um ano e meio, após a contratação dessa companhia canadense, estivemos nos preparando. Precisávamos vender a casa enquanto esperávamos o LMIA. O Labour Market Impact Assessment é um documento que a empresa solicita ao governo para que o contratado receba o visto de trabalho. Na semana em que o governo canadense expediu o LMIA, descobrimos que eu estava grávida pela segunda vez.

Foi tudo muito intenso desde então. Decidi não aceitar mais nenhum trabalho para poder dormir entre uma arrumação e outra que precisava fazer para deixar o país. Começou a parte mais difícil do checklist.

Já tínhamos todos os documentos (diploma, histórico escolar, certidão de casamento e certidão de nascimento da Barbara) traduzidos por tradutor juramentado, que é um serviço caro em que o tradutor responde judicialmente por cada palavra que traduz. Depois, fizemos um pacote de exames de saúde em um consultório licenciado pelo governo canadense e com uma lista de documentos em mãos (que você pode conferir no site do governo canadense https://www.canada.ca) fizemos a solicitação de visto de trabalho para ambos.

A essa altura já havíamos conversado com a Barbara sobre viajar de avião vagamente, e, vez ou outra, falávamos palavras em inglês dizendo que lá no Canadá as pessoas falariam diferente. Desde então, começamos a intensificar as conversas sobre mudar de país.

Ela tinha pouco mais de dois anos e não conseguia entender o que significava, ainda assim lhe falávamos constantemente, de forma simples e breve, sobre nossa mudança. Abordávamos somente o aspecto positivo, que lá ela teria novos amigos, novos brinquedos. Aproveitávamos toda palavra e situação para enfatizar a mudança.

No dia em que solicitamos o visto, começamos a desmontar nossa casa em Tatuí, interior de São Paulo. Um mês depois estava praticamente insustentável ficar em casa. Foi quando a Barbara começou a vivenciar o lado ruim, pois eram perdas após perdas. Cada dia uma coisa sumia de algum lugar na casa, e ela ia chorando me perguntar o que havia acontecido. Nunca escondemos nada dela.

A cada venda eu dizia que viria uma pessoa olhar aquele item, que nos daria dinheiro e levaria o item embora, mas que com aquele dinheiro compraríamos outro mais bonito no Canadá. Assim eu a consolava de leve. Desfazer-se dos brinquedos foi muito doloroso para ela, mas eu a deixei sempre à par das vendas e doações. Eu a incentivava a doar pensando em como outras crianças ficariam felizes, assim como ela havia sido feliz com aquele brinquedo. Eu citava nomes das crianças e descrevia suas necessidades para que ela pudesse entender que a melhor alternativa seria doar, ainda que não fossemos nos mudar. Na realidade, ela não sabia o que significava se mudar, apenas confiava em mim e me obedecia com dor, mas feliz. Nenhum brinquedo foi doado escondido; eu pedia a ela e a ajudava a decidir doar ou vender. Nunca tomei nada de suas mãos. Houve profunda tristeza, mas não choro.

Entregamos a casa para o novo proprietário um mês depois da aplicação, e fomos mochilar por 40 dias visitando nossos familiares. Esse era o tempo em que eu esperava ter nossos passaportes carimbados. Mas poderia se estender por muito mais tempo, se algum documento faltasse ou estivesse errado.
Acontece que eu oro muito e tenho muita fé em Deus de que cada coisa tem um tempo para acontecer, e tudo se encaixou perfeitamente.

O último mês de Brasil foi surreal: despedidas, náuseas de gravidez, falta de ar, estar cada dia em um lugar, preencher formulários sem fim, resolver questões legais dia após dia e nunca ter direito o que vestir, nos deixou esgotados. A Barbara sofreu, assim como eu e o Heberti. Já era noite, estávamos indo de Tatuí para Arapoti, interior do Paraná, e ela quebrou o silêncio dizendo que o seu amigo Ben havia ficado em Tatuí. Ela começou a entender o que significava deixar para trás.

Ambos tínhamos pesadelos diariamente, eu, ela e o pai. Tivemos insônia muitas noites. Ela estava mais irritada que o normal, e tinha dificuldade para adormecer. Às vezes, após a soneca da tarde, ela entrava em desespero pensando que for a abandonada, chorava por 30 segundos e ao me ver se acalmava.

Desde que saímos da nossa casa para nunca mais voltar, eu levava comigo um pouco da
rotina da Barbara. Alguns livrinhos e brinquedos estavam sempre em minha bolsa. Todos os dias fazia com ela o culto familiar, um momento de músicas e histórias bíblicas. Eu me esforcei para oferecer a ela lazer, atenção e boa parte da rotina que levava na vida que deixamos para trás. Comidinhas favoritas, banho com o papai, parquinho, tudo foi mantido dentro das possibilidades. Ela falava dos amigos de Tatuí para todos, como se já assimilasse a despedida.

Quando nosso passaporte foi carimbado e recebemos uma notificação de Brasília, vendemos nosso carro e compramos nossas passagens. Após 25 dias no interior do Paraná, na casa da minha sogra, estávamos no litoral, na casa da minha mãe. De lá, meu irmão nos levou para Curitiba; de Curitiba, meu padrasto nos levou para Arapoti, na casa da minha sogra. De Arapoti, minha sogra nos levou para Tatuí. Lá pegamos as malas, no total cinco grandes e três pequenas. Demos um beijinho nos amigos e partimos de carona para o Aeroporto Internacional de Guarulhos.

Amigos nossos nos levaram para aproveitar os últimos momentos, e lá encontrei minha irmã mais velha, que também estava grávida. A Barbara não chorou até então, para ela era muito etéreo o conceito de imigração. Ela estava muito empolgada para voar.
Quando o avião decolou ela pediu para ficar de “mãos andadas”, adormeceu e
acordou no Canadá.

A chegada

O dia seguinte foi indescritível. A mudança foi muito abrupta. Ninguém mais falava português ao redor, as casas eram completamente diferentes, não tinha mais nada verde, pois aqui era final de inverno. Foi bem assustador. No primeiro dia, a adrenalina me impediu de sofrer. No dia seguinte, passei a ter dor de cabeça de tanto falar inglês, e três dias depois me recusava a falar com as pessoas. Tive uma crise de pânico.

Aqui precisávamos nos cadastrar no serviço de saúde pública para ter o OHIP, Ontario Heath Insurance Plan, para isso precisávamos de um endereço. Para achar apartamento, precisávamos de um carro. Mas se tínhamos dinheiro, por que não comprar o carro? Porque para ter carro precisávamos de Drive Licence. Enfim, precisávamos de tantas coisas, uma dependia da outra, simultaneamente. A temperatura estava baixando, chegou a -4º e não tínhamos o que vestir. Todas as lojas estavam com coleção de primavera e, após muita procura, encontramos casacos em um brechó.

Os primeiros quinze dias foram totalmente insanos. Eu e a Barbara tivemos intoxicação alimentar. O Heberti foi comprar remédios numa noite e no dia seguinte amanheceu com a garganta inflamada. Teve uma bactéria que lhe rendeu uma febre de cinco dias, cinco quilos a menos e quinze dias com secreção no nariz até sangrar. Nessas dramáticas condições que procurávamos apartamentos todos os dias. A Barbara começou a sentir a dificuldade. A temperatura era negativa, não havia como sair de casa. Sem ninguém para brincar e sem uma casa definida, ela começou a reclamar de saudade do Brasil, e a pedir para voltar.

Foi muito doloroso consolá-la quando, em silêncio, eu desejava o mesmo. Apesar disso, eu continuei incentivando seu desenvolvimento. Ela ainda usava fraldas à noite e notei que, desde que chegamos, ela não molhava mais a fralda à noite. Esperei vinte dias e desfraldei ela. Os acidentes foram raros, voltaram quando o irmão nasceu, mas essa é outra história.

Já haviam se passado quinze dias e as coisas não melhoravam. Uma amiga distante, cunhada de uma amiga minha, me escrevia sempre oferecendo ajuda. Decidi parar de dizer que estava tudo bem e aceitar. Fomos então para a casa dela e ficamos três dias, embora já tivéssemos um apartamento vazio para morar, precisávamos de colo. Não tenho palavras para descrever o que significou para nós comer feijão com arroz, bolinho feito em casa e conversar em português… Que delícia! Após vinte intermináveis dias, alugamos um apartamento. Com um comprovante de residência em mãos, a vida começou.

Amanheceu. A Barbara tinha um colchão e uma caixinha de brinquedos. Fui até seu quarto e ela me disse que não queria mais voltar para o Brasil, mas que não gostava do Canadá. Passamos dias desviando de sacolas e caixas enormes das compras que fazíamos. Em quinze dias, montamos, literalmente, a casa.

Era domingo pela manhã. Ela saiu do quarto pulando e quando viu a casa toda completa disse que agora gostava do Canadá.

A segunda gravidez

Embora estivéssemos cadastrados no OHIP para ter acesso à saúde, tínhamos carência de três meses. Então me inscrevi no serviço de Midwifery de Toronto. As midwives são parteiras profissionais. Há mais de dez clínicas com mais de quinze parteiras cada uma. Fui aceita pela Midwives Collective, onde fui assistida quinzenalmente com todos os rapapés que temos no Brasil.

Elas me inscreveram em um programa de gravidez de risco, fiz ultrassons quinzenais, passei por obstetras e muitos profissionais. Tive um excelente parto. Estive à vontade para tomar todas as decisões. As parteiras apenas auxiliam e monitoram. Meu parto foi no Mount Sinai. A sala de parto era fantástica, imensa, com muitos aparatos tecnológicos e uma banheira maior que muitas piscinas que já vi. Tudo isso pago pela saúde pública, exceto a indispensável ajuda da doula. Em alguns momentos achei o acompanhamento exagerado, mas nunca perdi uma oportunidade de tagarelar em inglês, conhecer gente nova e andar de ônibus com a Barbara por essa cidade linda.

Não posso deixar de mencionar que quando sofri prolapse uterina após o parto, algumas mulheres da minha igreja vieram me ajudar em casa. Elas se revezavam para limpar e cozinhar para mim, já que eu não podia sequer me levantar da cama. Existe bondade em profunda solidariedade em qualquer lugar do mundo. Deus sempre manda seus amigos para cuidar dos seus filhos.

Vivendo aqui

Estamos completando seis meses aqui. Falar inglês já virou automático, não que eu nunca cometa erros, mas o esforço mental agora é mais para não misturar inglês e português numa conversa com a família, por exemplo. A Barbara fala poucas palavras em inglês, entende algumas coisas, mas não tenho pressa. Ela sorri todas as vezes que falam com ela, então todos se derretem e se sentem acolhidos.

Eu já amo viver aqui. A cidade é totalmente planejada e organizada, as ruas têm o mesmo nome de um extremo da cidade ao outro, indo, às vezes até cidades vizinhas com o mesmo nome. As ruas são como um xadrez: há as que são sentido norte-sul, e as que vão de leste a oeste. Localizar-se em Toronto é muito fácil, e o sistema de transporte coletivo é excelente, não conheço melhor. Aqui há pessoas como em todo o lugar, educadas ou não, alegres ou não, engraçadas ou não… Mas a melhor parte é que mais de 50% são imigrantes, e os outros 50% são descendentes de imigrantes, o que torna todos iguais. A todo momento ouvimos russo, chinês, italiano, espanhol, português, hindi e muito mais.

Por onde passamos, as pessoas se derretem pela Barbara. Aqui não é comum as crianças serem tão tagarelas quanto ela, nem se vestirem “empetecadas”. Nunca vejo meninas de laço, exceto as brasileiras. Nunca sei quando as crianças são meninas ou meninos.

Tenho alguns amigos brasileiros, dois russos, uma italiana, uma espanhola e uma da Indonésia. Existem centenas de parquinhos incríveis para as crianças e a cidade é mais limpa que minha casa. A cidade é banhada ao Sul e Oeste pelo Lago Ontario (Lake Ontario), e em toda a orla tem dezenas de parques e marinas. Tem milhares de parques ecológicos pela cidade, alguns grandes como no Brasil, outros que nós chamaríamos de praças.

Moramos em frente ao Humber Bay, um parque ecológico à margem do lago. A natureza explode na primavera. Está tudo morto e de repente brotam flores do chão ressequido, folhas dos galhos secos, e as aves cantam e brincam aos casais para escolher seus parceiros. Vemos ninhos e filhotinhos por toda a parte.

O animal mais comum em Toronto é o esquilo, especialmente o preto, que tem origem russa. Aqui, em vez de ter cachorros nas ruas, tem esquilos. Os cachorros moram com as pessoas em seus apartamentos. Na cidade tem quase 300 mil cachorros legalizados. Esse é um dos perfis de Toronto, muitos velhos e muitos solteiros com seus cachorros.

Encontramos quase todos os alimentos que tínhamos nos Brasil e muito mais. Durante a primavera e o verão, temos muitas feiras livres. O outono já chegou e o verão foi intenso, muita gente nas praias, nas ruas até tarde, uma exuberância sem igual na natureza; tamanha variedade de cores e flores, mas agora tudo começa a secar e cair. Dizem que o outono com sua variedade de cores é ainda mais belo que a primavera, vamos descobrir.

Estamos bem acostumados, sentimos muita saudade dos amados que deixamos para trás. Imigrar é como morrer e nascer em outro lugar. É triste não estar com meus amigos e familiares nas celebrações e conquistas. É difícil não se sentir amado e querido no começo, mas Deus é bom e nos proveu excelentes amigos aqui que são parte da nossa família. Amigos que nos acolheram e estão sempre conosco.

Preparando seu filho para a mudança

  1. Preste atenção no comportamento do seu filho. As crianças mudam quando estão desconfortáveis com uma situação real ou imaginária.
  2. Viva uma coisa de cada vez, sem antecipar sofrimentos, mas prevendo alegrias. Trabalhe o sofrimento presente, explique que irão ficar longe mas logo irão rever os amigos. Deixe a criança chorar, não fique dizendo: “não chore”. Dê espaço para o sofrimento e coloque limites nele, abraçando e confortando seu filho. Quando for aproveitar a companhia dos amigos, lembre ele de que logo irão para longe, não tente poupar a criança da realidade, da preciosidade do presente. Quando ela sentir a distância e a saudade, mostre fotos, relembre momentos, ligue, mande mensagens. Esteja atento ao presente e trabalhe imediatamente.
  3. Não minta, nem esconda os fatos. Se esforce para traduzir em linguagem simples cada momento pelo qual estão passando, ou passos que darão, sem mentiras ou fábulas. As crianças são, independentemente da idade, muito espertas e perceptivas. Não tente fingir algo ou enganar seu filho, ele vai se magoar e quando você tentar fazê-lo abrir mão de algo na esperança de um futuro melhor, ele não terá confiança em suas promessas e será um problema. Portanto, por mais difícil que seja a realidade, mantenha ele à par. A criança é um membro da família e deve ser respeitada. Decisões que irão afetá-la devem ser comunicadas em linguagem simples, breve e sem muitos detalhes. Deixe para desenvolver o assunto em diversos momentos em vez de tentar ter uma longa conversa de uma vez só.
  4. Em cada decepção, sofrimento ou perda, lembre seu filho de que aquilo que ele está perdendo é momentâneo e que ele terá um equivalente (se for verdade) onde irão morar. Aproveite todas as oportunidades de ajudá-lo a imaginar as coisas lindas que irão viver: uma imagem, uma frase, uma simples caminhada, uma palavra, uma queixa, um pedido…
  5. Se esforce para materializar a mudança, use todos os recursos que seu filho está familiarizado, tais como mapas, vídeos ou, simplesmente, breves conversas. Por exemplo: “Lembra quando nós fomos a tal lugar e você viu aquele grande … que nunca havia visto antes? Foi legal, né? Lá também você irá ver muitas coisas diferentes.” Sempre dê espaço para a criança responder, e aproveite a resposta para encorajá-lo a dar esse passo com a família.
  6. Nunca esqueça de que onde estiverem os pais, estará bom para os filhos. Permanecer unidos é fundamental. A maior necessidade do pequeno imigrante será tempo para brincar com os pais, especialmente nas primeiras semanas.
  7. Procure manter alguns vínculos com a vida que seu filho levava antes. Por exemplo: comer os mesmos alimentos, brincar das mesmas coisas, até mesmo levar alguns brinquedos especiais (inclusive dentro do avião e na bolsa, para ter à disposição em qualquer lugar). Tentar reproduzir trechos da rotina, como a hora da leitura, da soneca, ou qualquer outra atividade vai manter a criança segura e estável durante a adaptação.

Se esforce muito para manter diariamente os rituais familiares que tinham antes da mudança, tais como: jantar à mesa, a hora do boa noite, ou qualquer outro. Manter a criança conectada com o passado, por meio da rotina que ela tinha, é a melhor forma de prepará-la para receber e amar a novidade. Ela não sente a ruptura com tanta intensidade, pois a perda será parcial. É como se fosse a vida dela em outro lugar, com outras pessoas.

Arrancar dela os momentos e as brincadeiras de que gostava é uma violência emocional que só vai levá-la à crise. É claro que você não precisa reproduzir cada detalhe da rotina todos os dias, mas tente fazer as mesmas coisas sempre que puder. Quando compro flores para enfeitar a casa, a Barbara sempre diz: “Mamãe, você lembra que na nossa casa do Brasil tinha flores, e eu colhia?” As memórias que construímos em nossos filhos devem ser respeitadas, pois elas são a tradução da felicidade e do vínculo que tem conosco. Enterrar essas memórias causa mágoa e ruptura com os pais.

8. Estruturar o espaço físico em que irão viver, materializa e finaliza a mudança. Seu filho vai parar de pedir para voltar. Ele finalmente vai compreender o que é mudança. A criança não sabe o que é mudança até passar por isso, e antes de ter um lar confortável, novamente ela fica fragilizada. Com a casa montada, diminui ou acaba o sofrimento, e ela passa a construir novas lembranças. Essa segurança, entre outros motivos, vem da certeza de que suas promessas de um futuro lindo, feitas lá atrás, são verdadeiras.

9. Não tenha pressa para que seu filho se adapte. Não o exponha à outra cultura se ele não quiser. Cada criança tem seu tempo, mas é natural se desenvolver. Onde quer que ele esteja, irá se desenvolver, e é inevitável assimilar a nova cultura, aprender o novo idioma e a gostar da nova vida.

10. Mantenha conversas em vídeo com todos os familiares e amigos que deseja que seu filho se relacione. Além de amenizar a saudade, isso vai reforçar a autoconfiança, trazer distração durante a adaptação e reforçar que ele não perdeu tudo que ficou para trás.

11. Não demore para fazer amigos. Apegar-se às pessoas torna os desafios mais leves.

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10 comentários

    1. Oi Meninas! É a Sara, autora do post.

      Obrigada a quem nos acompanha nas redes sociais. Vou responder à pergunta sobre imigração.

      Meu insta é @saraemanoele pra quem quiser.

      Amiga, é barra. Enfrentar o medo é se lançar. Se você vai embora, só vá. Não olhe para trás. Encha-se de coragem, e chegando no novo país procure estruturar aquilo que é importante para o seu bem estar como mulher. Somos o equilíbrio da casa, precisamos estar bem para motivar o marido, ajudar os filhos. Então cuide de vc. Você vai sofrer o que tiver de sofrer, não há escapatória, então não perca tempo pensando nisso. Você vai conseguir fazer tudo o que precisa, as dificuldades virão e são diferentes para cada um, mas você vai superar tudo. A adaptação é mais rápida do que parece, mas muito intensa. Busque sua felicidade em cada detalhe, cuidado com o o consumismo que vai parecer a resposta para as tristezas, mas na verdade o que vai te fazer feliz é estar ocupada. Se você não tiver trabalho no começo se ocupe com atividades das quais gosta: mantenha-se ocupada. Os amigos virão, o sucesso, o contentamento. Seja forte e viva um dia de cada vez!

      1. Olá Sara, Amei seu artigo e me ajudou em algumas duvidas. Quero morar em Portugal, vou aposentar mas meu maior problema são minhas coisas em casa, afinal é uma vida que estou deixando para trás para começar de novo, tenho 55 anos. Como fez com roupas, livros, objetos pessoas, que tenho muitos e não dá pra levar tudo? Eu posso vender móveis, doar roupas mas tem coisas que são dificeis de desapegar. Sei que a principio não tem como levar, minha idéia foi deixar em um container e depois mandar buscar mas queria ouvir opinião de pessoas que mudaram. Obrigada !

  1. Esse texto veio em ótima hora pra mim… Amanhã receberemos uma proposta para irmos morar fora e eu também tenho um menino de 2 anos. Vamos ver a proposta para decidir se vamos. Obrigada por compartilhar o texto conosco! Abraços, Deus abençoe grandemente suas vidas!

  2. Já escrevi ali encima, mas fiquei com dúvidas referentes á família dela aqui no Brasil. Como escrevi ali no comentário, recebemos a proposta hoje (proposta do meu marido aliás de trabalho) e gostaria de saber quanto pesou deixar a família (avós, pai e mãe, cachorro essas coisas…)?!
    Hoje dependo bastante da minha mãe e da minha sogra para ficar com meu filho (de 2 anos e 3 meses) enquanto eu trabalho… nesse outro país eu ficar sem trabalhar e poderia aproveitar mais meu filhote (Pedro aliás, igual da Lore)…
    Espero que ela consiga me tirar estas dúvidas…

    Abraços!

  3. Olá,
    Excelente sua iniciativa, relata exatamente o que passei com minha família e ainda estou passando, mas com intensidade menor agora. Você disse muito bem, mudar de país é morrer e renascer de novo em outro lugar, só que no meu caso com 44 anos. Essa decisão é muita dura, dolorida demais, ver todas as suas coisas irem embora no Brasil depois de tanta luta é como arrancar seu coração do peito.
    Outro ponto que você citou e que até dei risada é sobre a dor de cabeça em ficar falando em outro idioma, cansa demais e literalmente dói mesmo, rs! Há nove meses que mudamos do Brasil, mas parece nove anos… Só pela infinita Graça de Deus, que chegamos até aqui, mas o interessante é que a situação é como uma ferida exposta que com o tempo vai cicatrizando, a saudade não acaba jamais, contudo, antes era ela um leão feroz, agora virou um gatinho rs…E assim vamos seguindo com Deus o caminho que ele vai nos conduzindo. Um grande abraço e muitas bençãos para vocês!

  4. Moro em Vancouver ha quase 6 anos, e agora estou escrevendo um material para uma Oficina para mulheres brasileiras sobre as mudanças na nossa imagem e estilo, e ao pesquisar outros assuntos achei o seu blog. Tive vontade de chorar, marcar um café com você, fazer uma ligação! Conclui que nessa partida sempre temos perdas, dos brinquedinhos da sua filha vendidos a nossa sensação de quem somos de novo, a arte do recomeço e a coragem no desconhecido sempre vai nos fortalecendo.
    Um abraço apertado!

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Junia Lane