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Direitos Essenciais para o Desenvolvimento na Infância

Com o passar dos anos, algumas coisas mudaram no que se refere a criação e educação de filhos. Os pais amam seus filhos de forma desmedida, muitas vezes mais do que amam a si mesmos, e sempre querem o melhor para eles.

Por isso, é importante olhar para si e para a forma como os pequenos estão sendo criados, refletir, rever alguns conceitos, aprender, questionar qual o propósito do que está sendo feito; olhar para o caminho que percorreu e questionar se está no caminho certo ou não. Permitir a si mesmo ficar em dúvida e até mudar de ideia, reconhecer que o que foi feito até ali foi o melhor que poderia ter sido feito e se dar a chance de fazer diferente daqui pra frente.

Mas é importante pensar, não ficar no piloto automático. O objetivo aqui não é criticar pai e mãe (e cuidadores), o objetivo é refletir sobre a forma como o mundo está caminhando, rever conceito e tentar preparar melhor os filhos para o mundo, dar melhores condições deles serem felizes no futuro.

Abaixo estão alguns pontos a serem pensados:

Terceirização da Infância

Devido a correria do dia-a-dia, muitos pais passam pouco tempo com os filhos e os deixam mais tempo em creches ou com as babás, podendo acontecer de só vê-los dormindo. Claro, muitos pais não podem abrir mão do trabalho de carteira assinada para poder se dedicar a cuidar dos filhos 100% do tempo. Mas é muito importante dedicar alguns momentos do dia para ficar com os filhos, para passar tempo juntos, conversar, ouvi-los, brincar, estabelecer um laço, acompanhar e se emocionar com cada conquista. A educação principal precisa ser dos pais, a escola e babá só continuam o que foi ensinado. A criança precisa desse momento, desse elo com os que são principais e mais importantes para ela.

Quando estão bem conectados aos filhos, eles são mais propensos a compartilhar as coisas com os pais, mais entusiasmados a fazer o que lhes são pedidos para fazer, são mais felizes e seguros em estar ao lado dos pais. Os filhos precisam de tempo de qualidade com os pais, não apenas brinquedos, escolas caras e cursos extracurriculares.

Distração permanente

Atualmente, as crianças passam muito tempo em celulares, computadores e televisão, sempre distraídas. É muito importante para a criança ter tempo para brincadeiras livres, onde ela decida do que vai brincar e usar a imaginação pra criar suas próprias brincadeiras e histórias. Dessa forma, ela tem a oportunidade de se sentir entediada e aprender a administrar seu tempo.

“O tédio e o vazio são berço daquilo que é mais importante para nós, a criatividade e imaginação. Nós estamos amputando isso dos nossos filhos” – Dr. Daniel Becker.

Isso pode começar desde cedo, ao perceber que a criança não precisa ser atendida sempre, que ela está se divertindo sem “fazer nada”. Se o bebê estiver tranquilo acordado no berço, sentindo-se bem sozinho, permita-lhe essa experiência e privacidade.

Deixar que a criança “se vire” para criar suas próprias brincadeiras e permitir que ela se divirta só, é muito útil. Façam atividades fora de casa, aulas extracurriculares, entretenimentos juntos, mas deixe horários livres para que ela possa exercer sua criatividade.

Adultização da infândia

Adultizar uma criança significa inseri-la precocemente no mundo adulto. Isso acontece através do incentivo a aquisição de produtos desnecessários, como sutiã de bojo para meninas à partir de 2 anos de idade, maquiagem e sandálias de salto, músicas que não tem letras infantis, danças sexualizadas e roupas de adultos, por exemplo.

A moda ajuda as crianças a se descobrirem e mostrarem de si nas peças, a descobrir o que gostam e não gostam, como se sentem confortáveis e como não. Se vestir como o pai ou a mãe, esporadicamente, faz parte do desenvolvimento infantil. Mas não é saudável olhar para as crianças como mini adultos, e nem incentivar esse comportamento neles.

A infância é uma fase extremamente importante para o desenvolvimento do ser humano. É uma fase de descobertas e isso vai acontecendo aos poucos e não deve ser imposto. A pressa é do adulto, não da criança.

Lembre-se de como você era quando criança e do que você gostava, lembre-se do que te fazia feliz e o que te entristecia. Lembre-se disso e tente se colocar no lugar do seu filho. A criança tem o direito de ser criança e de aproveitar a sua infância.

Segundo a psicóloga Odile Britto, “O comportamento adulto de uma criança não deve ser visto como algo positivo. Os pais precisam filtrar o que os filhos veem e estabelecer limites. O excesso de vaidade e atividades pode gerar, por exemplo, uma criança extremamente ansiosa, consumista e que está sempre recorrendo a coisas externas para se satisfazer”.

Impedir a independência da criança

Muitas crianças são muito dependentes dos pais, e alguns pais gostam disso. Eles se sentem importantes com a sensação de que os filhos precisam deles e não podem viver sem eles.

Muitos, tentando fazer com que os filhos sejam felizes 100% do tempo, compram e dão para eles tudo o que eles pedem. Fazem por eles o que eles podem fazer sozinhos, superprotegem, não os ensinam responsabilidades e não ensinam a independência.

É importante que os pais mostrem aos filhos que eles são capazes de fazer as coisas por si mesmos. Claro que as crianças precisam de ajuda, não estou sugerindo para deixá-las cuidando de si mesmas e nem fazendo todos os afazeres domésticos. Estou me referindo a permitir que a criança faça o que ela tem condições de acordo com a sua idade, como escovar os próprios dentes, guardar os brinquedos, arrumar seu próprio quarto.

Permitir que elas façam o que são capazes, as ajudam a adquir independência, responsabilidade e autoconfiança.

Superproteger, impedindo que a criança se frustre 

Dizer “não” também é educar. Quantos pais dizem que irão comprar outro brinquedo para o filho quando o brinquedo dele quebra e ele chora?! Ou dão um chocolate ou qualquer doce para acalmar a criança? Quando os pais não permitem que o filho chore, passam a mensagem que há algo errado nisso, que sentir tristeza, medo, decepção e frustração é ruim.

Então a criança cresce, e quando é decepcionada, sofre de forma “desproporcional” ao que aconteceu, faz compras em shoppings por compulsão, come compulsivamente, bebe até não se lembrar do que aconteceu e pode chegar a desenvolver vícios, tudo isso procurando formas externas para se acalmar*.

É preciso preparar as crianças para saírem emocionalmente bem, diante das provações e dificuldades que poderão enfrentar quando adultos. É bom que eles entendam que é preciso conquistar para ter o que querem e que nem sempre terão tudo o que desejam no tempo que gostariam.

É importante que se desenvolva a resiliência, ou seja, a capacidade de “voltar à felicidade” quando as coisas derem errado. Eles precisam aprender a se frustrar, precisam aprender a ser felizes em meio às dificuldades, precisam aprender a ouvir “não”.

Não há nenhum problema deixar a criança se sentir triste ou frustrada porque não ganhou a gincana da escola. Não há problema em ficar triste às vezes. O importante é aprender a superar isso e no dia seguinte perceber que vale a pena viver.

Crianças que aprendem a ouvir “não”, a lidar com situações contrárias, aprendem a negociar, a persistir, a perceber qual o real valor daquilo que ela está batalhando e aprende qual o momento de desistir.

Saber esperar desenvolve disciplina e autocontrole. A criança aprende a não agir por impulso, aprende a pensar antes de agir, aprende o respeito, paciência, a “plantar primeiro e depois colher” e a entender que o outro também tem suas necessidades.

Entenda que em algum momento da vida a criança irá se frustrar. Se não for em casa, com a supervisão e cuidado dos pais, será no futuro, com os aprendizados da vida. Colocar limites é essencial para que a criança cresça de forma saudável e entenda que não está no controle de tudo.

*Nem todos os vícios e compulsões são desenvolvidos porque as crianças não aprenderam a se frustrar, a ouvir “não” e não tiveram responsabilidades. E nem todo mundo que foi frustrado e ouviram “não” estão imunes a não desenvolver vícios. Mas tal forma de criação também pode, em conjunto com outros fatores, desenvolver isso.

Rotular as crianças

Rótulos são vícios que temos em todo momento, com adultos, crianças, culturas. “Aquele homem é carrancudo”, “aquela mulher é tão boazinha”, “aquele país é sujo”, “ele é muito educado”, “ela é bagunceira”, “o filho X é mais comportado que o filho Y, e o filho Z é me ajuda mais nas atividades de casa”, “teimoso”, “ansioso”, “agitada”…

Mas é muito importante evitá-los ao máximo na criação dos filhos. A maneira como o adulto fala com uma criança pode afetar a imagem que ela tem de si mesma.  Se os pais dizem, “ele é tão bonzinho”, a criança pode não ir atrás de algo que seja direito seu por pensar que isso possa causar problemas. Se ele é bonzinho não deve causar problemas. Se os pais dizem “ele não gosta de estudar, é preguiçoso”, a criança passa a acreditar nisso e levar esse comportamento para a vida, se sentindo muito mal consigo mesmo.

Os rótulos, além de descrever a criança e não o comportamento dela, seja esse comportamento considerado bom ou ruim, dá a entender que isso faz parte da criança e que ela não pode mudar. Se as pessoas repetem essas características, a criança passa a ter essa visão de si mesma e a agir de acordo, além de afetar a forma como as outras crianças a enxergam e até suas relações futuras. Se a criança se comportou mal, o comportamento é que deve ser apontado, e não a criança.

Para evitar tais vícios, lembre-se de comentar os comportamentos do seu filho: “você foi muito educada quando cumprimentou aquela pessoa”, “você foi gentil ao dividir seu lanche com o seu colega”, “não foi legal você gritar com sua avó”, “você foi honesto ao reconhecer que pegou o brinquedo do coleguinha e devolver para ele”, “não é legal zombar dos outros”, “foi muito legal da sua parte me ajudar com as atividades de casa”, “parabéns por ter estudado bastante, assim você conseguiu ter uma boa nota na prova”.

Vale a pena investir na infância, e não tenha pressa. Invista no seu filho(a) enquanto criança para que ele(a) se torne um adulto emocionalmente saudável, e para que se lembre da infância como uma boa época e não como algo traumatizante ou triste.

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Texto: Psicóloga Juliana Gomes
Fonte: Revista Prosa, Verso e Arte
Fotos via: Telegraph | Safe Route | Internations | Home Nature | Pure Wow

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3 comentários

  1. Fico animada quando vocês citam as babás. Tenho praticamente uma carreira como babá. Atualmente trabalho como. Faz cinco anos que cuidei de um bebê de 5 meses, a mãe não confiava em mim, mas foi começando a confiar e nos tornamos uma família só. Hoje ele vai fazer 6 anos e me considera como irmã ( e aí de quem diga que não, rs) Tenho o nível técnico em nutrição e dietética, mas como não tô exercendo ainda, ( em breve atuarei) apareceu essa vaga pra babá , por indicação, e hoje trabalho a 4 meses com uma família super incrível. Sou adventista e eles tbm, os funcionários todos são. Já fui muito criticada por ser babá, tem sempre umas pessoas que ridicularizam… Mas não me envergonho não, tenho orgulho, faço parte da vida de várias crianças que cuidei ( em especial o menino que cuidei por 5 anos). Sei que não é um trabalho que vai durar pra sempre, mas sei que atravez dele eu vou poder ter um futuro melhor, patrões que te incentivam é tudo!
    Obrigada pelo post sobre as babás. Sou e amo o que faço! Beijos 😘
    *Ps: o sorriso de um bebê apaga qualquer dor.

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Junia Lane