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Bem-vinda, Nina! – Relato de parto + pós-parto

A transformação de uma mãe é algo inexplicável! Em um dia você que era apenas uma grávida cheia de sonhos e expectativas, no outro (quem dera fosse como um passe de mágica, não é mesmo?) depois de muito sofrimento, horas de trabalho de parto, força, medo e recompensa, você se torna mãe.

Hoje a mamãe Dani compartilha com a gente o dia em que ela se tornou mãe e a chegada da sua pequena Nina! (Quem quiser ver o Diário de Gravidez da Dani, clique aqui).

O Parto

Ah! O parto…
Para falar sobre isso preciso antes apresentar a vocês a minha irmã Gabriele. Somos gêmeas, ela nasceu apenas dois minutos antes de mim mas tem anos de experiência de vida a minha frente, fazendo dela uma super irmã mais velha. Ela fez tudo antes de mim, namorou, casou, foi morar fora, teve duas filhas. Ou seja, para acompanhá-la tenho que correr.

Tudo que eu quero saber sobre a vida pergunto a ela, que tem sempre uma resposta prática, do tipo a vida como ela é, sem rodeios. Umas das últimas perguntas foi sobre parto normal: “eu só preciso saber, dou conta?” E ela, que já passou por dois, naquele tom de que é muito possível, diz: “ahhhh, dáááá…” com esse pensamento me encorajei.

Desde sempre disse ao médico que nos acompanhou que gostaria de tentar o parto normal, mas não era daquelas que querem a todo custo, pois se houvesse algum risco para o bebê, a cesárea seria bem-vinda. Pois bem, num domingo, no almoço na casa dos meus pais perguntei ao Tiago se estava bom se a Nina nascesse na próxima quinta. Já seria Setembro e já teria acabado a semana de gravações que ele tinha no trabalho. Ele disse que sim.

Na quinta as 7 da manhã entrei num bate papo pelo celular com a minha irmã. Assuntos aleatórios, descontraídos. Quando de repente senti uma coisa borbulhante e quente molhar a cama. É, minha gente, a bolsa estourou! assim como nos filmes. Chamei minha mãe, ligamos para o Tiago e para o médico. Não tinha mais jeito, ela ia nascer!

Dai para frente as coisas não são tão como nos filmes. Desde que veja seu médico, você não precisa correr para o hospital pois as contrações podem demorar bastante para começar. Como eu, você pode almoçar, conferir as malas, terminar de arrumar o quarto, ou simplesmente descansar, o que eu recomendo. A tarde voltamos ao consultório, e como ainda não sentia nada diferente o doutor disse para nos encontrarmos as 21 horas no hospital.

Por volta das 18 horas começaram as contrações, espaçadas e doloridas. Dor nas costas que foi aumentando gradualmente e ficando mais freqüente. Dói bastante, mas entre as contrações você consegue comer, conversar, perguntar quanto foi o jogo da seleção…as 19:30 resolvemos que era hora de ir para o hospital.

Chegando lá a dor estava bem forte, eu achava que não iria aguentar, tremia, suava. O Tiago, pensando na anestesia, e a todo momento me perguntando se eu queria a cesárea. Não me sentia em condição de decidir. Orava a Deus que Ele escolhesse para nós e conduzisse o médico.

Já estava com 5 cm de dilatação e com o bebê encaixado e na posição ideal para nascer, o médico estava animado para um parto relativamente tranqüilo e rápido, e eu só pensando que uma intervenção cirúrgica acabaria com a dor em minutos. O médico explicou que teriam opções desde analgésicos simples chegando até a cirurgia. Aceitei a sugestão de intervir aos poucos.

Se possível, escolha um obstetra que combine com a sua personalidade. Se você prefere a segurança de um hospital com tudo que oferece e não se acha capaz de enfrentar uma dor extrema, opte por um profissional que tenha boas referências em parto cesáreo. Se você sonha com um parto normal, escolha um profissional competente e um hospital que te dê apoio nessa opção. Se quer um parto natural em casa, da mesma forma, certifique-se que estará amparada por um bom médico quando necessário. Em todo caso, não force a barra, nem sempre dá tempo para mudar de ideia, então respeite seus limites, seu corpo e sobretudo o seu bebê.

O nosso médico, tem ótimas experiências com partos normais, fala sobre isso com muita propriedade e sempre mostrou estar disponível e disposto se eu também estivesse. Esteve conosco do começo ao fim conduzindo com maestria todo processo. Digo sempre que ele me levou na palma da mão. Por certo viu força e coragem onde eu só via medo e insegurança.
Durante o trabalho de parto parece que todo seu corpo para e se concentra no grande momento. Você não come, não vai ao banheiro, não conversa e os pensamentos são confusos dificultando tomadas de decisão, então o meu conselho, se é que cabe um conselho é: defina bem o que você gostaria com seu médico e seu marido ou acompanhante. Escreva um plano de parto respeitoso com a equipe médica. Confie neles já que os escolheu para estarem com você nesse momento tão especial e decisivo. E mesmo que você não possa ou não dê tempo para uma escolha, confie em Deus, e vá com fé que a natureza e os médicos sabem exatamente o que fazer.

Bom, lá estávamos nós, Tiago e eu na sala de parto, primeiro fiquei no chuveiro sentada numa bola, porém não me adaptei. Depois, numa poltrona e pedi o primeiro analgésico que diminuiu a duração da dor, mas aumentou a intensidade. Todo momento o bebê e eu éramos monitorados, e eu falava que não estava aguentando. O doutor me pedia mais quinze minutos para a próxima intervenção e demorava mais quarenta para voltar e dizer que estava tudo bem e assim me levando para mais perto do nascimento.
Dizia que tudo bem fazer a cirurgia, mas se eu esperasse estar mais dilatada o bebê estaria com os pulmões mais fortes pelo esforço que ele faz para nascer. Se é bom para o bebê você espera né? Dizia que tudo bem tomar a anestesia, mas tinha que esperar mais dilatação porque poderia faltar oxigênio e não seria bom para o bebê. Se não é bom para o bebê você não faz né?
Foram horas e horas desse jogo, e eu lá esperando os benditos 9 cm pra tomar a bendita anestesia. Arrumei uma posição e fiquei lá por horas pensando, pensando, cheguei a cochilar entre uma contração e outra.
Durante esse processo, você percebe que não existe distinção ou qualquer classificação entre as mulheres. Somos todas iguais, somos todas fêmeas dando cria, sem diferença de espécie. Somos ursas, leoas rugindo! Seu corpo urra, grita, berra, não depende de você. Tem vida própria. Não dá para controlar, ser fina. Percebi que estava perto porque lembrei da minha irmã me dizendo que quando começar a pensar e falar besteiras está quase na hora. Pois é, sabe a Eva? A da Bíblia mesmo. Pensava em me encontrar com ela para uma conversinha sobre o que está escrito em Gênesis 3:16.

– Amor, não, não me toca… você me perdoa? (Tiago detesta escândalo)
– Por que Dani?
– Porque eu estou gritando tanto…
– Imagina Dani! Pode gritar a vontade. Eu no seu lugar estaria gritando muito mais! (eu devia estar mal…rsrs).

Na posição deitada me resignei, pois percebi que não iam me dar mais nada para aliviar, as contrações perderam ritmo e a dilatação ficou lenta. O bebê nasceria até meia-noite, mas já eram duas da manhã e não saia dos 8 cm. O obstetra sempre muito paciente, esperou até as 2:30 para injetar ocitocina, que intensifica as contrações e acelera o parto. Eu estava com medo de mais dor.

– “Mas Daniela, você já está com dor! Já está a muitas horas aqui. Vamos ficar em pé 10 minutos e depois examinamos, dai aplicamos o medicamento”.
– Tá bom (que crueldade desse homem me botar em pé uma hora dessa né?)
Tiago me amparava e notei que tremia.
– Amor, você não trouxe blusa? (só faltava sair daqui para pegar no carro e me deixar sozinha)
– Não trouxe, Dani.

Nem pensei que o tremor fosse de nervoso que estava o pobre…sem poder fazer nada, sem saber que esse nada, na verdade foi tudo que eu mais queria e precisava. Sua presença constante e paciente. Sem dizer a conexão e a cumplicidade inexplicáveis que surgiram a partir dai. Quando o médico voltou e as enfermeiras começaram a aplicar a medicação ele viu que já estava nascendo e era hora de fazer força. Ficar em pé foi fundamental. Você começa a sentir uma pressão tão forte que te joga para cima, é tão intenso! O medo passa e você só quer acabar, resolver, fazer passar.
Na hora da contração tem que fazer a força, sem emitir sons, ou seja, não gritar. O que parece impossível, mas assim que fiz isso, prendendo o ar como se estivesse pulando numa piscina bem funda, o negócio começou a acontecer. O médico disse que em três tentativas ela sairia. Fiz umas seis, mas tudo bem, porque quando você ouve o choro e vê o bebê com todos os dedinhos, olhinhos brilhantes, abertos e curiosos, pronto, passou, de um jeito que tem que se esforçar para lembrar… Como era mesmo a dor?


O pós-parto

Depois de toda preocupação e repouso por quase dois meses, as 3 da manhã de uma sexta-feira em Setembro, ela nasceu com 37 semanas e 5 dias, três quilos e nota super alta de 9.9, ou seja, um bebê cor de rosa, maduro e em ótimas condições. Graças a Deus! Penso em um Deus tão generoso que compartilhou com o ser humano o dom da criação quando o fez a sua imagem e semelhança. Ele não é um Senhor austero de barba branca e cetro na mão, distante e impessoal. Gosto de imaginá-lo dizendo com um sorriso: “tudo isso que fiz é muito bom, vou criar seres capazes de fazer isso também!”. E assim podemos experimentar essa alegria sendo pais.

No dia seguinte o doutor veio nos ver e eu estava ótima. Tiago e ele conversando em como me enrolaram porque sabiam que estava correndo bem. Perguntei porque ele não me levou para cesárea se eu falava a todo momento que não ia aguentar mais. Ele simplesmente disse “porque você nunca pediu!”, todos rimos. No dia seguinte fomos para casa; minhas amigas tinham limpado e arrumado nossa casa, deixado almoço e comida pronta para a semana. Meu marido, cada dia mais apaixonado por essa pequenina que, todos dizem, é a cara dele, está sempre preocupado com nosso bem estar. Como pai é um marido 200% melhor. Companheiro e amigo.

Agora começa um tipo diferente e constante de dor. A primeira injeção, vacinas, testes, refluxo, cólicas… E você percebe que dali para frente a dor deles é a sua dor e que nunca mais vai parar. Dói dar a luz, você chora, luta, mas tem um pequeno alguém lutando e chorando junto e você vai em frente. No começo é difícil, cansativo e dolorido amamentar, mas tem sempre uma mãozinha para segurar a sua e você não desiste. Nunca mais estará sozinha, então quer estar lá nas dificuldades que terão também, sempre. Não poupará esforços. Nunca mais dormirá (não como antes), e fará tudo “errado” como todos os pais que um dia você julgou e até criticou…mas tudo bem porque agora você tem o seu menino ou me(Nina) e a vida faz todo sentido.
Não importa como, se vai doer antes ou depois do parto, se não pôde escolher ou não foi como imaginou não se cobre, não se culpe, não se frustre. Confie que Deus escolheu o melhor para vocês. O que importa de verdade é que ali nasceu também uma mamãe e a aventura está só começando. Parabéns!

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Fotografia: Shar Rodrigues

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12 comentários

  1. Dani!! Que força dentro dessa pessoa tão miúda!! Estava precisando desse texto pra decidir se vem uma mini Laura ou não!

    Parabéns! Sua bebê é linda!!
    🙂

  2. Como faz pra não chorar?
    Que relato lindo!
    Estou esperando meu primeiro filho (a), no 4º mês de gestação, e desejo tanto um parto normal, mas tenho muito medo da dor e de não dar conta de tudo.
    Mas, lendo relatos assim, me encho de força.

    Parabéns pela Nina!
    Que essa família seja cada dia mais abençoada.

  3. Que lindo!!! Realista e emocionante.
    Que bom ter um médico como esse que não cedeu na hora da dor, vendo que estava tudo bem e te fez conseguir o parto normal ^^
    Acho que o que mais precisamos trabalhar nessa hora é a nossa mente. Se ela desistir antes da hora, o corpo tbm desiste.

    🙂

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Junia Lane